domingo, 4 de novembro de 2012

Homem-Aranha: um herói cômico em uma vida trágica.

Um herói trágico
O Homem-Aranha sempre foi meu personagem preferido. E este ano completou 50 anos de criação, com histórias cativantes e filmes de sucesso nos cinemas. Um personagem que até hoje conquista corações dos fãs. Todos conhecemos sua história, que ele era um nerd, motivo de chacota para os valentões da escola, as garotas não gostavam dele, ele se sentia excluído de tudo, só tinha como amigos seus idosos tios, que sempre deram todo o amor e carinho, pois o pobre Peter Parker era órfão. Um dia, em uma excursão escolar para assistir uma experiência científica, Peter é mordido por uma aranha radiativa e ganhou incríveis poderes. Podia escalar qualquer superfície como uma aranha, tinha a agilidade e forças proporcionais a esse aracnídeo. 


O Aranha foi responsável pela morte de seu tio Ben
Ao descobrir seus incríveis poderes, Peter criou uma roupa para proteger sua identidade e foi...  ganhar dinheiro. Fez o que qualquer pessoa faria, tentou lucrar com seus dons. Teve sucesso, mas por pouco tempo. Ao deixar um ladrão fugir, pois não achava que era sua obrigação detê-lo, afinal isto era trabalho da polícia (suas palavras), este mesmo ladrão matou seu amado Tio Ben, e só então, ao prender o ladrão é que descobriu que era o mesmo que ele poderia facilmente ter impedido e lembrou-se da famosa frase que seu tio lhe dizia: Com grandes poderes, vêm grandes responsabilidades. E foi assim, em 1962, que Stan Lee e Steve Ditko nos apresentaram este incrível personagem que se tornou um dos maiores ícones da indústria dos Quadrinhos.
O Homem-Aranha conquistou os fãs porque além de ter boas histórias, poderes legais, ele era como uma pessoa normal. Peter Parker era o típico adolescente que se sentia excluído. Mas quando vestia a máscara, era super-engraçado, sempre zombava do perigo, fazia piadinhas infames o tempo todo.
A morte de seu grande amor
 Eu sempre lia as revistas do Aranha quando era criança, mas somente quando cresci e revisitei as histórias antigas ( parei de ler na fase de Um Dia a Mas, maldito Quesada), fui perceber o quanto o Aranha é um herói trágico. Que as piadas que ele faz são apenas para ele esquecer que esta com medo, ou para tentar distrair os inimigos no meio de uma luta. Nem a vida do Aranha nem a de seu alter-ego são um mar de rosas, nunca foram deste sua criação. O Aranha vive uma eterna tragédia. Como Peter, ele tem problemas com dinheiro, sempre tem que correr para pagar o aluguel que sempre está atrasado, precisa cuidar da tia que esta sempre doente, fura encontros com eventuais namoradas, sua vida é sempre agitada e nada parece dar certo. Como Homem-Aranha, não fica atrás, pois o Clarim sempre o coloca como ameaça, a cidade tem medo dele, os vilões sempre tentam matá-lo e mesmo arriscando a vida, as autoridades sempre tentam prendê-lo.
Mas o que mais chama a atenção na vida do herói é a perda que sempre o assola. Peter perdeu seus pais ainda criança e se tornou o Aranha quando seu tio Ben foi morto por um assaltante que ele deixou fugir. Isto mudou o garoto, foi o que fez se tornar um herói. Mas também se tornou sua maldição. A morte dos seus entes queridos é o preço que o herói paga por ser quem é. 
A morte de Jean Dewolff foi uma das mais trágica para
o Aranha. História de Peter David
O Aranha sofre em manter a vida pessoal com a de vigilante, e sempre a vida pessoal é prejudicada. A morte do Tio Ben é o cânone do herói, ele nunca vai deixar de lutar, pois, por culpa, ele sempre tenta se redimir de seu ato falho, embora saiba que isto nunca vai ocorrer, mas não pode deixar de agir e acontecer novamente com outro inocente. 
Mas a morte sempre foi uma parcela enorme na vida de Peter. A morte de seus entes queridos neste 50 de existência do personagem é algo que nos faz ser tão parecidos com o herói. Todos nós perdemos alguém em algum momento da vida. Mas no caso de Peter, ele acabou tendo participação neste eventos trágicos. Além da morte do seu tio, Gwen Stacy, o grande amor na vida de Peter,  perdeu a vida porque o vilão Duende Verde, que conhecia a identidade secreta do Aranha, para se vingar do herói, a sequestra e na luta contra o Cabeça de Teia a joga da ponte e ela morre na queda. O próprio Duende, na verdade, o empresário Norman Osborn, também morreu numa luta contra o Aranha, logo após ter matado Gwen. O Aranha queria matá-lo, mas não conseguiu e o vilão programou seu planador para atacar o herói, que ao desviar do aparelho, acabou atingindo e matando Osborn. Antes disso, um homem que Peter respeitava muito, o pai de Gwen, o capitão da polícia George Stacy também morreu e o Homem-Aranha teve participação também. Em uma luta contra o Dr. Ocutopus, o capitão Stacy foi soterrado por escombros ao tentar salvar um garoto que assistia a luta e morreu nos braços do herói. 
Os Osborns: pai e filho morrem por causa do Aranha
Outra morte que abalou o Cabeça de Teia foi da capitã de polícia Jean Dewolff. Uma das poucas aliados do herói na polícia, foi brutalmente assassinada por um colega de trabalho que usava a identidade de Devorador de Pecados. O Aranha quase o matou quando o enfrentou, mas mesmo não o matando, o deixou com sérios problemas de saúde, e isto fez o herói se sentir culpado. O vilão morre um tempo depois, em uma ação que o Aranha não conseguiu impedir.
O filho de Norman, Harry Osborn era o melhor amigo de Peter, e acabou se tornando o novo Duende Verde. Em uma luta com o Aranha, acabou morrendo nos braços do herói. Será que sem Peter Parker todos eles estariam vivos? 
Gwen Stacy talvez estivesse viva se Peter não
existisse.
Em uma história chamada No One Dies(Ninguém Morre) de Dan Slott, Peter, em um pesadelo, tem que enfrentar todos as pessoas cuja morte ele é responsável por culpa ou não, de todos esses personagens - não apenas o Tio Ben - que tornou-se sua principal motivação. É um ciclo vicioso; a própria existência do Homem-Aranha dita que mais e mais pessoas estão caminhando para serem mortos acidentalmente através de suas ações, fazendo que a culpa só vá empurrar ainda mais a vida de Peter para a luta, para tentar justificar suas mortes. Enquanto isso, o Homem-Aranha continua a fazer piadas em cada luta e lutar para manter uma aparência de ter uma vida pessoal e uma carreira. Isto, naturalmente, dá o Homem-Aranha seu senso admirável de resiliência ( capacidade de adaptar ou evoluir positivamente após momento de adversidade). Mas, lendo todas essas histórias, percebi que ele também se sente em uma auto-ilusão, pois mais que tente, ele nunca vai ter uma vida normal.
Todos tem em mente que o super-herói mais trágico dos quadrinhos é o Batman e eu também pensava isso. Batman é trágico porque ele está tentando lutar contra um inimigo sem rosto - o crime em si - uma batalha que nunca vai acabar, em nome de seus pais assassinados. Ele está tentando expiar os pecados de uma cidade que destruiu a sua vida, uma cidade que nunca realmente deu a ele algo de valor, impulsionado pela tragédia. O Homem-Aranha, por outro lado, é definida por suas tragédias.

As mortes em sua família, de suas namoradas, seus amigos, seus colegas, e até mesmo de seus inimigos são o que o Homem-Aranha carrega com ele dia a dia, deixando afetar sua vida e suas escolhas como um herói. Batman é um solitário clássico. Claro, ele tem aliados, mas também sabe até onde ir em relacionamentos. Não tem nada a perder. Peter Parker quer viver sua vida o mais normal que pode. E cada vez que ele acha que ele tem realmente uma vida, alguém morre. De fato, a recente revista Amazing Spider-Man Annual # 39 apresentou uma história em que Peter vai para uma linha de tempo alternativa onde ele nunca existiu. E adivinha como é lá? É uma vida com a qual sempre sonhou, só que sem ele. Tio Ben ainda está vivo, Norman Osborn não enlouqueceu, Mary Jane é um figura importante de Hollywood, e assumimos que Gwen Stacy ainda está viva ... tudo porque Peter nunca existiu.  Enquanto eu só posso supor que o ponto principal da história era mostrar o porquê Peter é necessário,a Marvel falhou neste ponto em sua própria revista.
Eu vivia sob minha própria auto-ilusão de que o Homem-Aranha era tão alegre como seu humor-como-mecanismo de defesa fazia parecer. Mas depois de 50 anos de história do Homem-Aranha, eu admito que eu nunca vou olhar para o lançador de teias da mesma forma novamente.

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